terça-feira, 8 de junho de 2010

Por que o Altruísmo?

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O argumento do altruísmo sem dúvida é um dos mais usados pelo senso comum e até por acadêmicos desatualizados (ou que optam pelo dogma de que os outros animais são meros robôs que agem pelo esquema do “estímulo-resposta”) para apoiar a idéia de que nós, seres humanos, somos extremamente peculiares em relação aos outros animais e até aos outros primatas. Sim, nós somos bem peculiares, mas a novidade é que talvez não sejamos tanto assim.
A palavra “altruísmo” foi criada pelo filósofo Augusto Comte, para expressar a capacidade humana de se dedicar ao próximo sem necessariamente esperar algo em troca, em oposição ao “egoísmo”, que é a disposição de se dedicar somente a questões que remetem a nós mesmos.
Nos últimos anos, primatólogos e outros especialistas tem questionado esta máxima, de que só humanos são dotados de altruísmo, baseados em diversas evidências. Essas novas evidências mostram que os outros primatas não-humanos, chimpanzés, bonobos, gorilas e orangotangos, possuem características muito próximas das nossas. Pesquisadores da Universidade de Kyoto, no Japão, chegaram à conclusão de que os chimpanzés são capazes de ajudar seus companheiros em situações que não possuem recompensa em vista. A diferença deles para os humanos, é que esses primatas precisam ser solicitados para realizarem a ajuda, os humanos, evidentemente, não. A prestação de favores entre esses primatas já foi documentada há muitos anos, mas somente as que possuem , explicitamente, alguma relação de recompensa em vista. Por exemplo, chimpanzés e gorilas catam uns aos outros caçando piolhos por diversos motivos, e um deles é justamente a prestação de favores para em seguida algo ser dado em troca.(saiba mais sobre o estudo realizado em Kyoto, clicando aqui)

Esse tipo de comportamento cooperativo e altruístico parece estar presente em maior ou menor escala, em todas as espécies de animais sociais. Frente a essas evidências, questionamentos emergem inevitavelmente. Existe uma obra do biólogo britânico Richard Dawkins, O Gene Egoísta, que mostra idéia de que nossos genes trabalham egoisticamente a fim de poderem chegar às gerações posteriores. Como já foi explicado aqui, isso não significa que os genes tenham vontade inerente, mas os genes que existem hoje foram os que tinham características que os tornavam mais eficientes que outros em se reproduzir e serem passados a diante. Dessa forma, um gene egoísta seria aquele que “promove” características em si mesmo, para que ele mesmo possa ser passado adiante em detrimento de outros. Nesse sentido, nossos genes são egoístas. Mas constantemente essa idéia de Dawkins, que é apoiada por fortes evidências, é atacada como sendo algo que planeja transformar os humanos em bárbaros sem coração, violentos e sanguinários. Primeiro que o raciocínio do gene egoísta não se encaixa só em humanos, se encaixa aos seres vivos de maneira geral. E genes egoístas não significam organismos egoístas. (Leia o post relacionado, sobre os genes egoístas, aqui
Tenha em mente agora o funcionamento de um grupo de animais sociais. Esse tipo de animal vive em conjunto com vários outros. Geralmente atacam em bando para se alimentar, se defendem juntos e etc. Imaginem como seria um grupo de seres sem nenhuma organização, em que cada indivíduo tentasse constantemente sabotar o outro de forma que em 0% dos momentos houvesse alguma cooperação. Provavelmente essa espécie em pouco tempo seria extinta ou talvez acabasse, com milhares de anos de evolução, deixando de ser uma espécie social. O que eu quis dizer é que para uma espécie se manter com sucesso na configuração de espécie social, ela necessita de cooperação, coesão social, sentimento de grupo...E isso é o que vemos nos primatas em geral. Nesse cenário um sentimento como o altruísmo emergiria facilmente. E ao que se devem essas características? Aos genes. Um gene egoísta, “preocupado” na promoção de si mesmo, levaria vantagem na decodificação de características que permitissem um dado indivíduo se agrupar a um outro grupo de outros indivíduos. O raciocínio é simples: o homo sapiens, por exemplo, leva muito mais vantagem em atacar um mamute, vamos supor, se realizar a ação em conjunto. As chances de sobrevivência e de sucesso na caça são bem maiores. Para a defesa é a mesma coisa. Imagine se um indivíduo é cercado por um leão. Seria devorado facilmente. Agora imagine se junto desse indivíduo existe mais uns 10 agitando tochas, gritando. Isso com certeza espantaria o animal, e mesmo que ele insistisse em atacar, certamente seria abatido.
Portanto, as mesmas regras que regem a vida social do homem, nesse sentido apresentado no texto, regem a vida dos outros primatas, logo, o altruísmo é uma característica que possui raiz evolutiva fortemente ligada à manutenção das relações sociais desses seres.