sexta-feira, 4 de maio de 2012

Falácias dos Movimentos Sociais

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Esse é um texto interessantíssimo que sintetiza parte do que eu venho pensando sobre os movimentos sociais e a relação disso com o "politicamente correto". E como exemplo desses movimentos cito o feminismo. A princípio eu já posso dizer que tenho algo contra as feministas porque são contra qualquer tipo de classificação do tipo. Explico: a crítica delas geralmente se direciona aos machistas, no entanto, elas parecem estar simplesmente criando uma nova ditadura sexista, só que dessa vez o autoritarismo vem das mulheres. E isso fica muito óbvio quando estamos na sala de aula na universidade. Ninguém pode falar sobre as diferenças biológicas entre homens e mulheres, ou qualquer diferença entre homens e mulheres, que aparentemente não esteja correlacionada preponderantemente com a cultura. Se alguém tocar nesse assunto, a reação será parecida com, talvez, a de religiosos dentro de uma igreja se você entrar lá e dizer que Jesus não era filho de Deus literalmente ou algo do tipo. Antes que outra forma de polícia do pensamento se instaure aqui, aviso logo que eu não estou querendo dizer que todas as mulhjeres ou todos os religiosos são assim, mas, convenhamos, qualquer discurso seria inviável se tivéssemos de ficar fazendo essa observação para cada advérbio que usássemos. Pois é isso que os movimentos sociais hoje se tornaram, um tipo de polícia para o pensamento e uma pseudoluta pelos direitos desse grupo. Leia o texto abaixo, postado originalmente no Calango Abstrato.

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Não direi que todas as mulheres e todas as feministas são crias de Satã, isso seria uma falácia. Tampouco direi que o Movimento Evangélico como um todo trouxe apenas dor e sofrimento ao mundo, pois, como todo e qualquer movimento social ou ideológico, os Evangélicos são tomados por pessoas boas e pessoas más. Alguns negros do Movimento Negro Brasileiro são pessoas de bom caráter, e alguns são pessoas de caráter duvidoso, algo que encontramos em todo e qualquer grupo humano. Porém, direi aqui que inúmeros movimentos cujas bases foram inicialmente bem-intencionadas tornaram-se uma péssima maneira de representar as pessoas boas quem dizem representar. Neles existe, como em qualquer outro grupo humano, aquela faixa de 10% de bem-intencionados calados (os bons silenciosos de Martin Luther King Jr.), 10% de mal-intencionados midiáticos e expressivos (os malvados gritadores) e 80% de ingênuos úteis que estão no movimento apenas por estar, pensam pouco a respeito dos fundamentos do mesmo e são por isso mesmo facilmente manipuláveis por qualquer um que esteja com a mídia do movimento nas mãos.
O problema é que os Movimentos Sociais Organizados (MSO) não têm como meta a liberdade de ninguém. O que eles buscam é categorizar uma classe por meio de uma abstração. Por abstração, entende-se que antes da escravidão, a cor da pele era só uma idiossincrasia, assim como antes da Igreja Católica, o conceito de heresia era doutrinário, e não político. A partir do momento em que um grupo torna-se dominante, ou um fato físico torna-se um fato histórico, a idiossincrasia desaparece, e cria-se uma classe social (discordo de Marx aqui, portanto, pois a classe social não é nada mais que uma abstração). Porém, como fazer com que minha idiossincrasia torne-se motivo para que eu justifique atos de crueldade, detratação dos direitos humanos, perseguição e violência? Simples, basta criar uma abstração qualquer em torno dela ou insistir na que está desaparecendo. Hitler fez isso na Alemanha com os judeus. Ser de origem semita ou ariana era apenas uma idiossincrasia, nada que justificasse privilégios ou repressões na letra da lei. Foi assim até que, por um momento, alguém percebeu que os arianos eram mais manipuláveis, insistiu-se na abstração ariana, fundou-se o Partido Nazista, demonizou-se a abstração oposta, semita, confiscaram-se as armas para não haver nenhuma reação, e com isso quase vinte milhões de pessoas foram mortas em campos de concentração nazistas.

Criar duas abstrações para jogar uma contra a outra é a mais velha das estratégias militares, tanto que os Romanos usaram isso nas Guerras Púnicas para derrubar a imagem dos cartagineses, na época uma civilização avançadíssima. A estratégia "de guerra" de um MSO nos dias atuais começa com uma alusão à Declaração Universal dos Direitos Humanos para justificar uma luta que, a princípio, é válida e justificável. No começo são pessoas bem-intencionadas, que querem nada mais que a igualdade e o fim da opressão. Como a DUDH é libertária e preconiza uma preocupação em garantir direitos básicos e algumas garantias universais que sejam aplicáveis a quaisquer seres humanos pelo Estado, então sua luta recebe títulos honrosos como justa, igualitária e libertária. Depois de fundado o grupo, chegam os mal-intencionados (não há exceções, sempre que um Movimento Social surge, não demora muito para os abutres pousarem na carcaça). Algumas pessoas, dotadas de determinadas ideologias, começam a defender bens sociais inócuos e que ferem diretamente bens individuais. Os 80% de ingênuos úteis nesses movimentos são aos poucos doutrinados no sentido a acharem-se especiais, superiores ou diferenciados, e, com isso, começam a considerar todos os que não se encaixam nesse grupo como não-especiais, inferiores ou "uma massa homogênea". Eles passam a usar o mesmo discurso que atacam contra os que nem de longe lhes são hostis. Começam a lutar por direitos diferenciados, garantias especiais e privilégios para seu grupo de um modo tão velado que até parece uma luta por direitos iguais. De repente, nos vemos atolados de leis que garantem privilégios a determinados grupos, enquanto que os 10% de bem-intencionados se calam diante da Espiral do Silêncio e da patrulha ideológica, e os 10% mal-intencionados tomam a frente desses MSO e os representam na mídia.

No fim, esses mesmos MSO, que começam pautados no discurso de igualdade da DUDH começam a alardear novas diferenciações entre sua abstração e a outra abstração (algo que é negado pela DUDH), transformam todos os que fazem parte da outra abstração em uma terceira abstração, a histórica. No fim, a DUDH é totalmente detratada em nome de uma suposta liberdade e em um falso discurso de igualdade.

No Mein Kampf, Adolf Hitler justificou de forma lógica e aparentemente coerente todo um discurso de ódio e revanchista. Afirmando que o povo ariano sofreu por séculos nas mãos dos semitas, os nazistas começaram a inserir na mente dos ingênuos úteis a falsa informação de que os semitas tinham uma dívida histórica com os arianos e, por isso mesmo, os arianos deviam lutar por um reparo histórico. Começou com privilégios para os arianos na própria letra da lei. Não demorou, e os arianos estavam quase completamente convencidos de que os semitas mereciam todos morrer, incluindo as crianças e aqueles que nada fizeram contra os arianos, simplesmente porque os semitas, enquanto classe (na cabeça dos arianos) são a causa dos males dos arianos. Criou-se uma diferenciação abstrata entre arianos e semitas, de modo a supervalorizar um e desvalorizar o outro. O Nazismo, que começou fundamentado pela pelo discurso de liberdade, igualdade e fraternidade da Declaração Universal dos Direitos do Homem da Revolução Francesa começou a alardear diferenciações entre arianos e semitas (algo que é negado pela Declaração Francesa). Como resultado, na cabeça dos ingênuos úteis, matar uma criança judia (semita) passou a ser justificável de alguma maneira estranha, e tivemos então a Ditadura Hitlerista, os campos de concentração e o extermínio de 20 milhões de seres humanos (alguns dos quais eram arianos, como eslavos e ciganos).

O Mein Kampf Nazista equivale ao SCUM Manifesto de Valérie Solanas, por exemplo. O mesmo discurso de ódio de Hitler contra os semitas é o de Solanas contra os homens. Da mesma forma que, até os dias atuais, muitos ingênuos úteis ainda acreditam e põem em prática as ideias de Hitler, a maior parte das feministas ainda se pauta nas ideias de Solanas. O Nazismo começou pautado na Declaração Universal dos Direitos do Homem. O Feminismo começou pautando-se na Declaração Universal dos Direitos Humanos. O Nazismo tinha como discurso inicial a igualdade e a liberdade. O Feminismo inicial tinha o mesmo discurso. Mas, o que aconteceu com o Feminismo para tornar-se tão próximo ao Nazismo?

Ocorreu o mesmo que vimos acontecer com todos os movimentos: corrompeu-se. Você acha que, quando T. J.Kincaid disse "heterossexuais não têm motivo nenhum para sentir orgulho" ele estava promovendo a igualdade na diversidade sexual? Claro que não! Se assim o fosse, ele diria "homossexuais e heterossexuais têm motivos de sobra para sentir orgulho juntos". Acha que o Movimento Negro luta para que a cor da pele deixe de ser critério de ascensão ou repressão social? Óbvio que não! Se assim o fosse, seriam contrários à política de cotas. Ao lado dos movimentos Feminista, Negro e LGBTTT poderíamos colocar outros Movimentos Sociais Organizados, como o Evangélico, o Vegano, o Masculinista, o Carismático, o Ateu (como a ATEA e a LiHS), o Indígena, a Al-Qaeda, o Neonazista, o Socialista, o Sindicalista ou qualquer outro que levante a bandeira de "nós primeiro e os outros que morram". Todos esquecem uma verdade simples. Para a DUDH, todos são iguais, e se X e Y fazem parte de todos, e X é igual a A, significa que o valor de Y também é A. Qualquer coisa que faça X ser diferente de Y, sendo ambos iguais a A consistirá em uma falácia.

P.S.: agradeço a Arthur Golgo Lucas, que, de certa maneira, me inspirou este artigo.