Esse é um texto interessantíssimo que sintetiza parte do que eu venho pensando sobre os movimentos sociais e a relação disso com o "politicamente correto". E como exemplo desses movimentos cito o feminismo. A princípio eu já posso dizer que tenho algo contra as feministas porque são contra qualquer tipo de classificação do tipo. Explico: a crítica delas geralmente se direciona aos machistas, no entanto, elas parecem estar simplesmente criando uma nova ditadura sexista, só que dessa vez o autoritarismo vem das mulheres. E isso fica muito óbvio quando estamos na sala de aula na universidade. Ninguém pode falar sobre as diferenças biológicas entre homens e mulheres, ou qualquer diferença entre homens e mulheres, que aparentemente não esteja correlacionada preponderantemente com a cultura. Se alguém tocar nesse assunto, a reação será parecida com, talvez, a de religiosos dentro de uma igreja se você entrar lá e dizer que Jesus não era filho de Deus literalmente ou algo do tipo. Antes que outra forma de polícia do pensamento se instaure aqui, aviso logo que eu não estou querendo dizer que todas as mulhjeres ou todos os religiosos são assim, mas, convenhamos, qualquer discurso seria inviável se tivéssemos de ficar fazendo essa observação para cada advérbio que usássemos. Pois é isso que os movimentos sociais hoje se tornaram, um tipo de polícia para o pensamento e uma pseudoluta pelos direitos desse grupo. Leia o texto abaixo, postado originalmente no Calango Abstrato.
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Não direi que todas as mulheres e
todas as feministas são crias de Satã, isso seria uma falácia. Tampouco
direi que o Movimento Evangélico como um todo trouxe apenas dor e
sofrimento ao mundo, pois, como todo e qualquer movimento social ou
ideológico, os Evangélicos são tomados por pessoas boas e pessoas más.
Alguns negros do Movimento Negro Brasileiro são pessoas de bom caráter, e
alguns são pessoas de caráter duvidoso, algo que encontramos em todo e
qualquer grupo humano. Porém, direi aqui que inúmeros movimentos cujas
bases foram inicialmente bem-intencionadas tornaram-se uma péssima
maneira de representar as pessoas boas quem dizem representar. Neles
existe, como em qualquer outro grupo humano, aquela faixa de 10% de
bem-intencionados calados (os bons silenciosos de Martin Luther King
Jr.), 10% de mal-intencionados midiáticos e expressivos (os malvados
gritadores) e 80% de ingênuos úteis que estão no movimento apenas por
estar, pensam pouco a respeito dos fundamentos do mesmo e são por isso
mesmo facilmente manipuláveis por qualquer um que esteja com a mídia do
movimento nas mãos.
O problema é que os Movimentos
Sociais Organizados (MSO) não têm como meta a liberdade de ninguém. O que eles
buscam é categorizar uma classe por meio de uma abstração. Por abstração,
entende-se que antes da escravidão, a cor da pele era só uma idiossincrasia,
assim como antes da Igreja Católica, o conceito de heresia era doutrinário, e
não político. A partir do momento em que um grupo torna-se dominante, ou um
fato físico torna-se um fato histórico, a idiossincrasia desaparece, e cria-se
uma classe social (discordo de Marx aqui, portanto, pois a classe social não é
nada mais que uma abstração). Porém, como fazer com que minha idiossincrasia
torne-se motivo para que eu justifique atos de crueldade, detratação dos
direitos humanos, perseguição e violência? Simples, basta criar uma abstração
qualquer em torno dela ou insistir na que está desaparecendo. Hitler fez isso
na Alemanha com os judeus. Ser de origem semita ou ariana era apenas uma
idiossincrasia, nada que justificasse privilégios ou repressões na letra da
lei. Foi assim até que, por um momento, alguém percebeu que os arianos eram mais
manipuláveis, insistiu-se na abstração ariana, fundou-se o Partido Nazista,
demonizou-se a abstração oposta, semita, confiscaram-se as armas para não haver
nenhuma reação, e com isso quase vinte milhões de pessoas foram mortas em
campos de concentração nazistas.
Criar duas abstrações para jogar
uma contra a outra é a mais velha das estratégias militares, tanto que os
Romanos usaram isso nas Guerras Púnicas para derrubar a imagem dos
cartagineses, na época uma civilização avançadíssima. A estratégia "de
guerra" de um MSO nos dias atuais começa com uma alusão à Declaração
Universal dos Direitos Humanos para justificar uma luta que, a princípio, é
válida e justificável. No começo são pessoas bem-intencionadas, que querem nada
mais que a igualdade e o fim da opressão. Como a DUDH é libertária e preconiza
uma preocupação em garantir direitos básicos e algumas garantias universais que
sejam aplicáveis a quaisquer seres humanos pelo Estado, então sua luta recebe
títulos honrosos como justa, igualitária e libertária. Depois de fundado o
grupo, chegam os mal-intencionados (não há exceções, sempre que um Movimento
Social surge, não demora muito para os abutres pousarem na carcaça). Algumas
pessoas, dotadas de determinadas ideologias, começam a defender bens sociais
inócuos e que ferem diretamente bens individuais. Os 80% de ingênuos úteis
nesses movimentos são aos poucos doutrinados no sentido a acharem-se especiais,
superiores ou diferenciados, e, com isso, começam a considerar todos os que não
se encaixam nesse grupo como não-especiais, inferiores ou "uma massa
homogênea". Eles passam a usar o mesmo discurso que atacam contra os que
nem de longe lhes são hostis. Começam a lutar por direitos diferenciados,
garantias especiais e privilégios para seu grupo de um modo tão velado que até
parece uma luta por direitos iguais. De repente, nos vemos atolados de leis que
garantem privilégios a determinados grupos, enquanto que os 10% de
bem-intencionados se calam diante da Espiral do Silêncio e da patrulha
ideológica, e os 10% mal-intencionados tomam a frente desses MSO e os
representam na mídia.
No fim, esses mesmos MSO, que
começam pautados no discurso de igualdade da DUDH começam a alardear novas
diferenciações entre sua abstração e a outra abstração (algo que é negado pela
DUDH), transformam todos os que fazem parte da outra abstração em uma terceira
abstração, a histórica. No fim, a DUDH é totalmente detratada em nome de uma
suposta liberdade e em um falso discurso de igualdade.
No Mein Kampf, Adolf Hitler
justificou de forma lógica e aparentemente coerente todo um discurso de ódio e
revanchista. Afirmando que o povo ariano sofreu por séculos nas mãos dos
semitas, os nazistas começaram a inserir na mente dos ingênuos úteis a falsa
informação de que os semitas tinham uma dívida histórica com os arianos e, por
isso mesmo, os arianos deviam lutar por um reparo histórico. Começou com
privilégios para os arianos na própria letra da lei. Não demorou, e os arianos
estavam quase completamente convencidos de que os semitas mereciam todos morrer,
incluindo as crianças e aqueles que nada fizeram contra os arianos,
simplesmente porque os semitas, enquanto classe (na cabeça dos arianos) são a
causa dos males dos arianos. Criou-se uma diferenciação abstrata entre arianos
e semitas, de modo a supervalorizar um e desvalorizar o outro. O Nazismo, que
começou fundamentado pela pelo discurso de liberdade, igualdade e fraternidade
da Declaração Universal dos Direitos do Homem da Revolução Francesa começou a
alardear diferenciações entre arianos e semitas (algo que é negado pela
Declaração Francesa). Como resultado, na cabeça dos ingênuos úteis, matar uma
criança judia (semita) passou a ser justificável de alguma maneira estranha, e tivemos
então a Ditadura Hitlerista, os campos de concentração e o extermínio de 20
milhões de seres humanos (alguns dos quais eram arianos, como eslavos e ciganos).
O Mein Kampf Nazista equivale ao
SCUM Manifesto de Valérie Solanas, por exemplo. O mesmo discurso de ódio de
Hitler contra os semitas é o de Solanas contra os homens. Da mesma forma que,
até os dias atuais, muitos ingênuos úteis ainda acreditam e põem em prática as
ideias de Hitler, a maior parte das feministas ainda se pauta nas ideias de
Solanas. O Nazismo começou pautado na Declaração Universal dos Direitos do
Homem. O Feminismo começou pautando-se na Declaração Universal dos Direitos
Humanos. O Nazismo tinha como discurso inicial a igualdade e a liberdade. O
Feminismo inicial tinha o mesmo discurso. Mas, o que aconteceu com o Feminismo
para tornar-se tão próximo ao Nazismo?
Ocorreu o mesmo que vimos
acontecer com todos os movimentos: corrompeu-se. Você acha que, quando T. J.Kincaid disse "heterossexuais não têm motivo nenhum para sentir
orgulho" ele estava promovendo a igualdade na diversidade sexual? Claro
que não! Se assim o fosse, ele diria "homossexuais e heterossexuais têm
motivos de sobra para sentir orgulho juntos". Acha que o Movimento Negro
luta para que a cor da pele deixe de ser critério de ascensão ou repressão
social? Óbvio que não! Se assim o fosse, seriam contrários à política de cotas. Ao
lado dos movimentos Feminista, Negro e LGBTTT poderíamos colocar outros
Movimentos Sociais Organizados, como o Evangélico, o Vegano, o Masculinista, o
Carismático, o Ateu (como a ATEA e a LiHS), o Indígena, a Al-Qaeda, o Neonazista, o
Socialista, o Sindicalista ou qualquer outro que levante a bandeira de "nós primeiro e os outros que morram". Todos esquecem uma
verdade simples. Para a DUDH, todos são iguais, e se X e Y fazem parte de todos,
e X é igual a A, significa que o valor de Y também é A. Qualquer coisa que faça
X ser diferente de Y, sendo ambos iguais a A consistirá em uma falácia.
P.S.: agradeço a Arthur Golgo Lucas, que, de certa maneira, me inspirou este artigo.
P.S.: agradeço a Arthur Golgo Lucas, que, de certa maneira, me inspirou este artigo.