sexta-feira, 1 de junho de 2012

Sobre a "Marcha das Vadias"

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Eu tenho medo da transformação cultural que o Brasil está sofrendo. Estamos nos tornando cada vez mais toscos e promíscuos. O feminismo, que antes era associado a um movimento que buscava a igualdade política entre homens e mulheres - da mesma forma que várias pessoas já lutaram pelo fim da desigualdade política entre brancos e negros e etc - hoje está sendo identificado com um grupo que advoga causas toscas como a Marcha das Vadias. Não que a causa em si seja uma pseudocausa - talvez não seja - mas fazer uma marcha como essa e ainda com esse nome é o ápice da deterioração da dignidade.

Pessoalmente eu acho que está havendo a banalização das palavras direito e liberdade. Pessoas se mobilizam para defenderem seus direitos ou suas liberdades de serem coisas que eu acho que não necessariamente se tratam de uma questão de ter direito a algo.

Sinceramente...Leiam esse texto, escrito pela Lia, do blog Polemilia.
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Marcha das Vazias:

"É isto que eu acho que acontece com a Marcha das Vadias. Pessoas preparam o terreno jogando a lama e as vadias vão, descem, caem, lambuzando-se todas como se lutassem por respeito."


Hoje, enquanto eu pensava sobre mulheres seminuas segurando cartazes, referi-me ao evento em voz alta como marcha das "vazias" e não das "vadias", como é conhecido. Como podes imaginar, isto já in
dica o que, no fundo, penso sobre o assunto. Vê bem, eu sou CONTRA a violência gratuita, inclusive, claro, contra o estupro. Não gostei da piadinha do Rafael Bastos sobre o assunto que "mulher feia deveria agradecer o estuprador", tão pouco concordo com a observação do policial Michael Sanguinetti quando ele disse que "as mulheres evitassem se vestirem como vadias (sluts, no inglês original), para não serem vítimas (de estupros)". Não acho que nenhuma mulher deva usar burca ou se casar virgem. Sou a favor do aborto e acho que as garotas podem se vestir como quiserem, de forma provocante ou até mesmo de gosto duvidoso. Até porque, diz a lenda popular, que a maioria das mulheres se veste para competir com outras mulheres e não necessariamente para chamar a atenção de homens. Eu não sei, eu acho que é um misto de várias inclinações, como a vontade de se sentirem atraentes, de se autoafirmarem, de estarem na moda, de pertencerem a um grupo, de provocarem ou simplesmente por se sentirem bem usando tal roupa. Seja como for, querem usar pedaços de panos curtos com brilhinhos e achar que estão arrasando? Querem usar saias que não tampam nada e dançarem até o chão fazendo claras referências a atos sexuais? Querem fazer beicinhos em programas de TV? Querem usar shorts que se colam na bunda, nos quais a divisão da “piriquita” fica terrivelmente explícita? Querem usar roupas coladas que muitas vezes não combinam com o tipo de corpo, mas, ao contrário, o desvaloriza? Querem ser não apenas sensuais, mas claramente vulgares? 
Bom, isto é o problema de cada um, não sou contra isso. Vejamos: ser vulgar é ser comum, banal, barato. Qualquer um deve ter o direito de se sentir, afinal numa democracia, a grande massa, a maioria, reina. Não sou nem mesmo "contra" a marcha das vadias. Eu apenas acho que esse evento, como é feito, é de muito mal gosto. Não acho, sinceramente, que ele irá "chocar" como as pessoas acham que irá. Isto porque mulher pelada todo mundo vê o tempo todo, basta ligar na TV, em qualquer canal, que vamos ver mulheres de vestidos curtos, saias, pedaços de pano ou biquínis que nada escondem. Mulher sem calcinha também. Esses programas de fofocas amam falar que tal estrela não usa calcinha debaixo de um vestido super colante para não marcarem a peça. Então, não vejo nada chocante na imagem de mulheres com roupas minúsculas. O BBB está cheio delas. Não acho que desta forma irão chamar atenção para o que realmente importa no evento: discutir o aborto, a violência contra as mulheres e outros assuntos realmente relevantes, como a diferença de salários entre os sexos. Digo isso porque frases como "danço funk sem calcinha e a buceta continua sendo minha" e "minha buceta é meu poder" etc são simplesmente toscas. Eu nem digo que tais frases são "degradantes" porque nós vivemos numa sociedade que adora degradar o outro e ver pessoas em estados hiper, blaster constrangedores, então apelar para o tosco, para o ápice da deteriorante não é apenas normal, mas também desejável para a maioria vulgar, para a massa mediana e baixa. Vide o Pânico na TV e nossa atual "comédia", especialmente brasileira - retratos perfeitos da degradação humana. Eles ultrapassam o mediano e alcançam o baixo, a lama e lá se divertem, aos aplausos de outros tantos lameados. É isto que eu acho que acontece com a Marcha das Vadias. Pessoas preparam o terreno jogando a lama e elas vão, descem, caem, lambuzando-se todas como se lutassem dignamente por respeito. Um exemplo claro: professores preconceituosos chamam alunos de macacos. Como eles respondem: "olha para nós, somos macacos e fazemos macaquices por sermos livres". Isso é liberdade ou é justificar o que os preconceituosos já disseram? A Marcha das Vadias realmente está sendo debatida como um movimento político ou como uma desculpa para os homens observarem seios "politizados"? Quando se fala em ir pro funk sem calcinha, que direito está sendo pedido? Funk já foi institucionalizado, já faz parte da cultura brasileira. Não se proíbe ninguém de andar sem calcinha. Acho apenas que não é algo higiênico. E as frases de mulheres falando sobre beber livremente? Não vejo lei que as proíba, mas, ao contrário, homens adoram "mulheres soltas", "no ponto do álcool". Há muito a ser debatido, mas me focarei apenas nos já apresentados. Não acho o nome digno de um movimento. Não estou em extremos: não sou religiosa, adoro minha liberdade sexual, mas uma sociedade que passa estímulos sexuais o tempo todo, de forma desorganizada e degradante, realmente gera frutos distorcidos como o "movimento das vazias", digo, "vadias".