sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Ensinar ou não ensinar a variação linguística?

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Erros de português sempre incomodam, não adianta negar (como a irritante mania mais novade falar “reprovei” ao invés de “fui reprovado”). Claro, uns incomodam mais que outros, mas o que não consigo entender mesmo é o motivo pelo qual algumas pessoas defendem o “direito” de se errar a língua que falamos. Acredito que o objetivo oficial da chamada “variação linguística” não seja esse, mas sim fazer os alunos vêem que o que hoje é chamado de português formal ou norma culta da língua é algo convencionado ao longo da história de determinado grupo social. 

Além disso, é  difícil falar numa norma culta no sentido de algo estático a ser seguido porque ela está sempre variando, a língua é viva. No entanto, eu ainda me pergunto: será que ensinar isso para crianças e adolescentes no colégio é produtivo? 

 Como eu disse antes, um fato que todos que estudam a língua sabem é que ela está em constante variação, mesmo que se tenha uma norma culta convencionada. Aliás, ela própria é impermanente. Veja, por exemplo, que no passado escrevia-se “cousa”, e não “coisa”. E hoje a segunda é que faz parte do idioma oficial. Ou seja, a variação é natural e acontecerá de um jeito ou de outro, sempre. 

Isso me faz chegar até a questão da pertinência em falar de tais coisas no colégio. Já vi algumas pessoas falarem coisas erradas e, ao serem corrigidas, dizerem que a língua serve para promover a comunicação e, tendo isso feito, não precisamos seguir perfeitamente nenhuma norma ditada “de cima” (fazendo referência à elite, base do padrão oficial da língua sempre). Insistir em mais é uma questão de preconceito e segregação, dizem esses opositores. Curiosamente, é justamente esse o argumento que é passado para as pessoas não mais só na faculdade, mas no colégio, para individuos que na maioria das vezes não tem maturidade nem para fazer o dever de casa. 

A minha idéia – e meu temor – é que por ser um fenômeno natural, esse tipo de variação não precisa ser ensinada nas escolas. Ela simplesmente acontecerá e todos serão testemunhas, tanto para aquele que prefere falar um bom português quanto para o que é desleixado e fala errado mesmo – ou não teve oportunidades de aprender o correto. Essa tautologia acabará legitimando – na cabeça dos jovens e imaturos – o hábito de não se importar em falar corretamente, afinal – dirão eles - , “não preciso seguir um padrão imposto pela elite e, no final das contas, o que eu falo é só uma variação da língua”.