Pegando o ônibus pela manhã, indo para o trabalho, ouvi sem querer o papo de duas senhoras de meia idade. Estavam falando sobre política, sobre os dois candidatos à presidência da República. A conversa estava bem normal (bem senso comum), até que uma delas disse: “Só acho uma coisa: religião e política não se discutem.” A outra concordo vigorosamente, como se tivesse ouvido um aforismo lógico incontestável do próprio Sócrates.
Isso fez ressuscitar em mim todo o pessimismo e crítica sobre a inteligência do brasileiro médio, cujas amostras de covardia e idiotia intelectuais já me incomodam faz tempo. Nesses tempos de eleições, tudo isso parece estar fervilhando de uma forma bem mais explícita.
As pessoas sustentam ignorância com orgulho! Isso é algo novo na história do saber.
Fico completamente aturdido quando alguém propaga o lema da não discussão. O que isso significa exatamente? Que o indivíduo acha que os debates televisionados são um desperdício sem igual do horário nobre da tv, em que a emissora poderia exibir uma nova novela ou mais um seriado de comédia? Ou a posição se refere só aos eleitores, que não deveriam discutir entre si suas opiniões e votos?
Qualquer uma dessas opções é simplesmente um disparate não só com relação à nossa condição de Homo sapiens, mas com a própria história da política conforme nossos ancestrais gregos nos legaram. Como pode existir democracia sem discussão entre os cidadãos e destes com os seus pretensos representantes?
Essa estratégia obtusa gera as mais diversas pérolas: eleitores que votam num candidato porque possuem a mesma profissão, porque compartilham crenças religiosas e assim vai. Creio que esteja na hora do brasileiro ser mais responsável. Somos um povo reclamão, que nunca está satisfeito com a política, mas também somos altamente corruptíveis e inconsequentes quanto à vida pública.
No fim das contas, temos em Brasília uma amostra bem representativa da população, pois o que é feito na política é feito também por cada um em suas vidas privadas. Todos esses são males fomentados pela alergia discursiva, que impede que coloquemos em check as questões que incomodam, que geram problemas e que são as realmente importantes.